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Sobre a vida e a morte

data-filename="retriever" style="width: 100%;">O mundo atual carece de certidões de nascimento. Está comprometido visivelmente com atestados de óbito. As nações, em geral, e os meios de comunicação, em particular, também estão, no ser e no fazer cotidiano. As notícias a todo momento, as reportagens, os debates, tão em voga hoje, os textos dos articulistas, de maneira clara e intensa, na sua maioria absoluta, têm relação com o trágico, com a destruição de pessoas, famílias e comunidades, com a morte, em todos os seus aspectos e condições. Essa é a matéria-prima que alimenta jornais, rádios, tevês e revistas em seus noticiários e registros coletivos.

O mundo, tido e havido como "normal", o vivido por todos nós, no dia a dia corriqueiro e previsível, o nascer no e para o mundo, esses e outros fatos da mesma linha não são notícia, a não ser excepcionalmente. O extraordinário, anunciado pelas tevês e rádios, esse quase nunca traz consigo anúncio de vida. A morte de pessoas importantes, a destruição por tsunami, as enchentes e os vendavais, os feminicídios, os crimes com todos os seus fortes matizes, esses e outros fatos congêneres fazem o furo jornalístico.

O ano de 2020 não só se caracterizou como um tempo de pandemia, com tudo que ela marcou e produziu, mas também foi um tempo de mudança de idéias, valores e sentimentos na vida pessoal, nas comunidades, no exercício do poder, em todas as esferas e níveis, do municipal ao estadual, do federal ao internacional.

A leitura, neste início de 2021, dessa realidade múltipla e complexa, tanto na vida particular como na vida do país, pode ser feita pela ótica do atestado de óbito ou pela certidão de nascimento. Há pessoas hoje fazendo coisas extraordinárias, gente do bem, voltadas à construção de um mundo mais humano e fraterno. Há, no entanto, outras (poderíamos também chamá-las de malfeitores, criminosos, assassinos) que estão comprometidas com a maledicência, com o fazer mal, provocando a desarmonia, a destruição, gente que assina atestados de óbito pelo seu testemunho pessoal e social, na família, na profissão, na política, no lazer, na desconstrução que os seus atos provocam.

O sonho, os desejos coletivos, os abraços por cotovelos, as mãos dadas por olhares compreensivos, a imensa maioria, por idéias, valores, sentimentos e ações, assinam diariamente certidões de nascimento. Há, também, e é o que mais aparece, a ansiedade generalizada, a depressão pessoal e coletiva, os suicídios frequentes, a descrença nos valores espirituais, esses e outros atos é que preenchem os atestados diários de óbito. Não há como fugir à interpelação: de que lado estamos? Com a vida ou com a morte?

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